Quando a Lama Encobre os Horizontes: Uma reflexão Sobre os Riscos na Modernidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21664/2238-8869.2022v11i3.p176-187

Palavras-chave:

risco, modernidade, desastre, barragem de fundão, Rio Doce

Resumo

Este artigo discute, a partir do ocorrido em 5 de novembro de 2015, envolvendo o rompimento da barragem de Fundão, de propriedade da Mineradora Samarco S.A., uma joint-venture das empresas Vale S.A. e BHp Billiton, o desastre sociotécnico que se configura como expressão do risco na modernidade. A partir da ótica de autores como Giddens e Ulrich Beck refletimos sobre a relação entre risco e desastre na modernidade. A onda de rejeitos provocada por este rompimento causou incontáveis impactos socioeconômicos e ambientais na bacia do Rio Doce, atingiu drasticamente ecossistemas e habitantes dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Este desastre se constitui, portanto, como uma manifestação dos riscos imbricados no processo de construção das sociedades e evidencia que os desastres ambientais são indicadores das profundas transformações das relações entre o homem e seu entorno. Neste sentido, conclui-se que as questões ecológicas e ambientais constituem pauta urgente para as políticas públicas e que a luta e a resistência das comunidades atingidas são mecanismos importantes para que o desastre e os impactos provocados por ele não sejam esquecidos.

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Publicado

2022-09-23

Como Citar

VASCONCELOS, Jacqueline Martins de Carvalho; NONATO, Eunice Maria Nazarethe; CAMPOS, Renata Bernardes Faria; NODARI, Eunice Sueli. Quando a Lama Encobre os Horizontes: Uma reflexão Sobre os Riscos na Modernidade. Fronteira: Journal of Social, Technological and Environmental Science, [S. l.], v. 11, n. 3, p. 176–187, 2022. DOI: 10.21664/2238-8869.2022v11i3.p176-187. Disponível em: https://revistas2.unievangelica.edu.br/index.php/fronteiras/article/view/6526. Acesso em: 22 dez. 2024.

Edição

Seção

Edição Especial - 2022