Síndrome de Munchausen por procuração: a importância e os desafios do diagnóstico precoce nocontexto do abuso infantil
Palavras-chave:
Síndrome de Munchausen por procuração. Abuso infantil. Diagnóstico.Resumo
Introdução: A síndrome de Munchausen por procuração (SMPP) foi descrita pela primeira vez em 1977 pelo pediatra Roy Meadow. Essa síndrome se caracteriza por um distúrbio psiquiátrico relativamente raro que afeta o cuidador principal de uma criança, geralmente a mãe, que passa a simular uma doença no filho, causando lesões físicas reais e induzindo hospitalizações e procedimentos desnecessários, caracterizando um tipo grave de abuso infantil. Objetivo: Analisar os sinais de alarme e os perfis dos portadores da síndrome de Munchausen por procuração, com ênfase no diagnóstico precoce da síndrome. Material e método: Esta discussão trata-se de uma revisão integrativa da literatura composta por 16 artigos selecionados nos bancos de dados PubMed e Lilacs a partir dos descritores DeCS: munchausen syndrome by proxy; child abuse; diagnosis. Foram selecionados artigos nas línguas inglesa e portuguesa, entre os anos de 2000 e 2018. Resultados: A síndrome de Munchausen por procuração pode causar severas consequências para a vítima desde problemas psicológicos futuros até a própria morte, sendo que as taxas de mortalidade variam entre 6% a 33%. Ademais, os profissionais de saúde podem causar danos à criança decorrentes da indicação de tratamentos e procedimentos desnecessários. É importante se atentar aos perfis dos portadores da SMPP e sinais de alerta para que sejam viáveis o diagnóstico precoce e a prevenção de consequências mais graves dessa forma de abuso infantil. A maioria dos casos são provocados pelas mães das vítimas, que correspondem a 76% dos casos observados, sendo que o segundo maior grupo foram os pais da vítima (7% dos casos). Os portadores são em geral jovens de 25 a 31 anos de idade, mulheres e casadas. Distúrbios de personalidade e humor são muito comuns, sendo que altas taxas de depressão, autoflagelação e tentativa de suicídio estão associadas. Além disso, uma história de maus tratos na infância ocorreu em 30% dos casos. Complicações obstétricas foram descritas em 70% dos casos nos quais as mães eram as agressoras. Os indivíduos com essa síndrome relatam o histórico de saúde da vítima de modo dramático e podem ter grande conhecimento de terminologia médica, rotinas e protocolos hospitalares, porém o relato pode se mostrar inconsistente ou vago quando questionados sobre mais detalhes. Além desses sinais, deve-se atentar ainda que normalmente o portador é muito afetuoso e cuidadoso com a vítima. O agressor aprecia e estimula os procedimentos médicos ainda que perigosos e sua preocupação não condiz com a aparente gravidade da vítima. Por fim, em relação à criança é importante estar atento que a doença muitas vezes se apresenta como um caso incomum, de difícil diagnóstico, resistente aos tratamentos, que se choca com os exames laboratoriais e, em alguns casos, os sintomas desaparecem quando o agressor está ausente. Conclusão: Baseado nos dados avaliados, conclui-se que existe um padrão de comportamento que se repete nas pessoas portadoras da SMPP, assim como, nas características dos casos observados, que devem ser valorizados a fim de se levantar a hipótese diagnóstico de tal doença. O reconhecimento de tais padrões possibilita o diagnóstico precoce, evitando maiores sofrimentos para a criança e possibilitando tratamento adequado para a pessoa que se encontra verdadeiramente enferma.